Desenvolvimento
Comunidade passa a aderir ao Bairro Empreendedor na Colônia Z-3
Nos próximos dias, cursos gratuitos sobre empreendedorismo serão realizados no local, que se transforma em piloto do programa em Pelotas
Jô Folha -
Até o mês de março deve estar definido qual será a nova localidade de Pelotas a receber o Bairro Empreendedor. Na próxima semana, a comunidade da Colônia de Pescadores Z-3 - que se transforma em piloto ao programa - receberá curso gratuito de empreendedorismo. A expectativa é de que, com mais esta ação, em torno de 200 pessoas já terão participado das atividades desde o mês de setembro, quando iniciado o trabalho por lá.
Até agora, a Secretaria de Desenvolvimento, Turismo e Inovação ainda não sabe quantos moradores irão acessar os recursos de até R$ 5 mil, a custo zero. Mas este não é o ponto mais importante. O financiamento é apenas uma das etapas. O Bairro Empreendedor possui quatro eixos (leia mais detalhes no quadro) e quer identificar e capacitar lideranças para darem seguimento aos projetos que começam a ser mapeados. E para isso a população passará por qualificações que a ajude a enxergar os caminhos para abrir negócio próprio ou expandi-lo. Individual ou coletivamente.
"A principal ferramenta é um despertar da comunidade de que lá tem a alternativa de fazer bons negócios e nem sempre se precisa de grandes investimentos", afirma o secretário Gilmar Bazanella. "Às vezes é só uma pequena adequação". Por isso, a importância de um olhar técnico que avalie o mercado e ajude a verificar se as ideias possuem viabilidade.
E a Colônia Z-3 não foi escolhida ao acaso. O 2º distrito de Pelotas tem potenciais claros a serem explorados, em dois aspectos principais: turismo e gastronomia.
Um canal para reivindicações e diagnóstico de oportunidades
O Bairro Empreendedor também tem funcionado como referência para que as famílias levem as demandas que historicamente são apresentadas ao Poder Público. Investimentos na estrada de acesso à Z-3. Escola de Educação Infantil à criançada. Ampliação das redes de internet. São algumas das reivindicações que já apareceram e começam a ser levadas não só para as demais secretarias municipais, como para a própria iniciativa privada; no caso da instalação de wi-fi.
"Estamos fazendo um grande movimento para que as ações e as dores sejam ou resolvidas ou atendidas. Que a gente seja o meio-de-campo para outras ações", resume o assessor de criação de políticas públicas da Secretaria de Desenvolvimento, Pablo Salomão. No caso da internet, por exemplo, a prefeitura já passou a fazer contatos com empresas para tentar qualificar o serviço, que hoje é essencial, inclusive, para investir em empreendedorismo.
"Queremos pegar essas reclamações que são verdadeiras e válidas e transformar em solução para comunidade do ponto de vista de desenvolvimento econômico", reforça Bazanella. E os apontamentos feitos pela população estão todos documentados.
Duas ideias que poderiam gerar emprego e renda, inclusive, já despontaram entre as prioridades. A reativação da fábrica de gelo e a instalação de uma futura indústria de rações, que desse uso aos descartes do pescado que hoje são vendidos e não ficam na própria Colônia, estão entre os temas sugeridos pela população.
Menos microempresas, mais MEIs
Dados da Receita Federal indicam: o número de Microempreendedores Individuais (MEIs) cresceu 16% em Pelotas. Em 2019 eram 22.037 MEIs. Agora, em 2021, pulou para 25.575. Já as microempresas fizeram o caminho inverso: encolheram. Em 2019 eram 19.076. Neste ano, o número despencou para 10.960.
"Essa variação foi causada muito fortemente pelo impacto da pandemia nas microempresas, que foram muito mais sensíveis às restrições impostas pelo isolamento social e não conseguiram suportar abertas", analisa o gerente regional do Sebrae, Ciro Vives. E a ampliação dos MEIs também está diretamente relacionado aos efeitos da Covid-19. "Muita gente perdeu seu emprego e, como forma de se sustentar, virou empreendedor por necessidade".
É um cenário que reforça a importância de programas como o Bairro Empreendedor - reitera Vives.
Coragem em empreender
O estabelecimento é pequeno. Restringe-se a uma peça apertadinha, mas a cabeça da proprietária está cheia de planos. Mônica de Ávila Alves, 35, participou atentamente dos encontros do Bairro Empreendedor e já projeta o Mix Mercado e Loja em instalações ampliadas. Mais do que as verbas que poderia acessar, a comerciante está de olho nas orientações técnicas nas obras que estão por vir.
"A gente faz como a gente acha, mas depois começa a trabalhar e vê uma série de coisas que se tivesse tido o auxílio de alguém que entendesse, não teria feito daquela forma", ressalta. E exemplifica com a localização da porta do estabelecimento, que está na lateral e não de frente para rua. A intenção para 2022 é deixar o imóvel onde por anos a avó Silvana também teve ponto comercial e migrar para a casa ao lado, que seria preparada especialmente para abrigar o Mix.
A expectativa é de que, com a ampliação, os clientes possam contar com maior variedade. Hoje, mesmo que queira, Mônica não consegue investir em estoque. Não há espaço disponível. Com o ambiente maior, a estimativa é de vantagens nas duas pontas. Ela teria condições de negociar preços melhores na hora de adquirir as mercadorias. Já os clientes teriam mais opções de marcas e de produtos, quem sabe até, com valores mais atrativos.
Nos últimos meses, Mônica sente o impacto direto da inflação em alta. O óleo de soja que era adquirido a R$ 3,99, hoje atinge os R$ 7,75. Na prática, a margem de lucro é baixa: não passa dos R$ 0,25. E não há outro jeito. Os trabalhadores artesanais sofrem com os repetidos reajustes no preço do óleo diesel e com a defasagem nos valores pagos pelo pescado. "A gente tá trabalhando somente pra se alimentar", afirma Mônica. Ainda assim, sente-se encorajada em empreender. Quem sabe no futuro abrir um restaurante? É uma das hipóteses que ela já cogita.
Foco nas orientações técnicas
A oficina é referência aos pescadores. Há cerca de 40 anos, Afonso Cavalheiro, 62, trabalha com manutenção e confecção de peças para embarcações. Ao tomar conhecimento do Bairro Empreendedor, viu crescer o sonho de qualificar o espaço e abrir uma loja para venda das produções próprias e também de artigos comprados fora.
"Quero aproveitar a assessoria técnica e dar visibilidade ao meu negócio", explica. "Preciso de auxílio na gestão da parte de vendas". Isso que experiência não falta. O diretor do Sindicato dos Pescadores não trabalha apenas para o mercado interno. Não raro, Cavalheiro passa horas dedicado a atender encomendas de outras cidades; às vezes até de outros estados brasileiros, como São Paulo. Mas sempre direcionado à área da pesca e da piscicultura.
Tubos de descarga para chatas, peças para refrigerar motores do barco e eixos para hélices. São apenas alguns exemplos das criações que surgem das mãos do ex-aluno do curso de Eletromecânica da antiga Escola Técnica Federal de Pelotas (ETFPel).
Entenda melhor
* O Bairro Empreendedor possui quatro eixos:
- Descentralização: Identificação e formação de lideranças que deem seguimento aos projetos.
- Rede empreendedora: A intenção é de que a comunidade possa desenvolver projetos, também, de forma associativa. Atualmente, entidades do sistema S - como o Sebrae e Senac - participam do programa, trazem informações sobre a importância de os empreendedores buscarem a formalização e contribuem com a montagem de planos de negócios.
- Qualificação: Instituições de ensino superior também se juntam ao Bairro Empreendedor para, através de parcerias com a prefeitura, contribuírem na qualificação da comunidade - como o evento que irá ocorrer nos próximos dias.
- Financeiro: É mais uma das fases do programa. Os empreendedores, formalizados, poderão acessar recursos. Até o momento, o Executivo ainda não dispõe de dados sobre quantos moradores da Colônia de Pescadores irão acessar as verbas a juro zero.
* O financiamento a juro zero (*):
- Valor máximo: R$ 5 mil - conforme a capacidade de endividamento
- Tempo para pagar: até 12 parcelas, sem prazo de carência
- Instituição financeira: o banco que irá realizar os empréstimos ainda não está decidido. Haverá chamamento público para definição.
- Juro zero: A prefeitura possui um fundo no valor de R$ 300 mil para o pagamento dos juros dos empréstimos que serão feitos. A estimativa é de que as centenas de operações financeiras cheguem a um total que deverá oscilar entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões.
- Mais de um empréstimo: Será possível, mas só após o pagamento do primeiro financiamento.
(*) Destinado unicamente para Microempreendedores Individuais (MEIs)
Participe do curso! (*)
* Terça-feira, dia 16:
- Das 9h às 12h: Projeto Start, para preparação dos jovens para o mercado de trabalho
- das 14h às 16h: Movimento Elas, preparando mulheres para o mercado de trabalho
- das 9h às 17h: Eixo de descentralização do Bairro Empreendedor visitará e mobilizará a comunidade para as atividades. "A Z-3 é uma grande tela em branco, que a gente tá começando a desenhar junto com a comunidade", enfatiza o diretor de Desenvolvimento, Diego Knorr.
* Quarta-feira, dia 17:
- Das 9h às 11h30min: Palestra do Sebrae sobre Empreendedorismo para começar bem
- 12h: Almoço com bate-papo dos empreendedores com integrantes do primeiro escalão do governo
- 14h: Roda de conversa da UCPel sobre Vantagens e desvantagens do MEI
- 17h: Palestra a cargo do Sicredi sobre Educação financeira para empreendedores
- 18h: Palestra motivacional Pescando Empreendedores, em parceria com o Sesc
(*) O evento será realizado no Salão Paroquial da Colônia de Pescadores. As inscrições devem ser realizadas no CRAS.
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